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Como Viver Em Uma Ilha

E se divertir trabalhando
Já se vão alguns poucos anos desde que morei na Ilha de Creta, na Grécia. Mas as memórias estão muito recentes em minha mente. Que lugar maravilhoso! 
Eu fui recebido de braços abertos por amigos que já moravam na Ilha. Foi um tempo divertido e marcante. Eu fui garçon, host e kamaki - este último considerado a melhor função no bar onde eu trabalhava. Aliás, chamar aquilo de bar era ser superficial.
O Player's Bar era uma outra ilha dentro da Ilha. Um mundo à parte. O kamaki era o cara que trabalhava como o Public Relations daquele que era considerado o melhor bar de toda a Ilha de Creta. Ou seja, minha função era escanear pessoas que passavam na charmosa e apertada alameda onde fica o bar. Eu abordava turistas para convencê-los a entrar no Player's. Bem, na verdade eu não precisava fazer muito. Aquele era (e ainda é) um dos lugares mais badalados de Creta. Mesmo assim, em horas em que o bar ficava um pouco menos cheio, eu colocava gente para dentro. Em um lugar que cabiam cinquenta pessoas, nos horários de pico a lotação chegava aos 150 bebedores. Na maioria Irlandeses. Que povo engraçado e divertido. Eles tinham brincadeiras novas para tudo. Todos os dias. Claro, o objetivo de todas os jogos que faziam era para ver quem bebia mais.
Eu trabalhava duro. Era pauleira. Até 4 ou 5 horas da manhã. Mas eu me divertia. Além disso, tinha o ritual após o trabalho: ver o sol nascer na praia. E quando os primeiros raios de sol já iluminavam as águas do mar, eu mergulhava naquele delicioso banho reenergizante.
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Nadando naquela agua cristalina, límpida e sedutora, eu conseguia ver a areia debaixo dos meus pés. Mesmo indo cada vez mais fundo. Por vezes, eu apenas me deixava levar pelos devaneios da mente e me afastava da costa. Ficava lá, eu, o sol e o mar. Ficava nadando por um bom tempo. Me deliciava ao abrir os olhos debaixo d'água e ver aquele mundo submarino e a areia branquinha no fundo. Eram reais momentos de êxtase. O sentimento era único, como se eu fizesse parte daquela natureza toda que me rodeava. Eu nadava livremente, interagindo com cada elemento daquele mar sem fim. Aquele era meu ritual durante as manhãs, enquanto o sol comecava a aquecer a todos nós no começo de mais um dia. De vez em quando, eu apenas boiava na água, de costas, com minha face sendo aquecida pelo sol. Cruzava os dedos com as minhas mãos na nuca e ficava lá, completamente relaxado, curtindo o suave e harmônico balanço do mar. Eu me espreguiçava, aproveitava cada segundo daquela interação privilegiada, daquela sensação de gravidade surreal. Às vezes, chegava até mesmo a tirar uns rápidos cochilos. A mágica maciez da água não deixava meu corpo afundar. Como algo tão simples, proporcionava tanto equilíbrio interno e externo. A natureza é perfeita. É só sabermos nos harmonizar com tudo à nossa volta.

Leia esta história com detalhes incríveis no capítulo 10 do Trem Azul e Branco.
Saravá!